Onça-pintada está mais ameaçada na Mata Atlântica e na Caatinga
Cientistas dizem que espécie está 'criticamente em perigo' nos dois biomas.
População desses felinos caiu 10% na Amazônia nos últimos 27 anos.
Eduardo Carvalho
Do G1, em São Paulo
Exemplar
de onça-pintada que foi fotografado no Pantanal. Pesquisa aponta que
espécie está mais ameaçada na Mata Atlântica e na Caatinga (Foto:
Divulgação/Douglas Trent/Projeto Bichos do Pantanal)
Pela primeira vez, pesquisadores brasileiros avaliaram a situação das
onças-pintadas em cada bioma do país e constataram que este mamífero
está criticamente em perigo na Mata Atlântica e na Caatinga, além de
apontar uma redução de 10% na população desses felinos na Amazônia nos
últimos 27 anos.
A fragmentação de florestas devido à urbanização, desmatamento para
expansão agrícola e venda de madeira, além da caça predatória e
retaliação por morte de animais domésticos ou gado estão entre os
principais motivos para a redução de espécimes nos últimos anos.
Os dados fazem parte de um levantamento feito durante três anos por
cinco especialistas de três instituições científicas do Brasil, entre
elas o Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos
Carnívoros, Cenap, ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade.
Com uma população total estimada de 55 mil onças-pintadas, os
cientistas creem que nos últimos 27 anos houve um declínio de 30% na
população efetiva, ou seja, uma queda no número de indivíduos capazes de
se reproduzir e deixar descendentes férteis
O estudo tem o objetivo de atualizar informações sobre as
onças-pintadas para a União Internacional para Conservação da Natureza
(IUCN, na sigla em inglês), que elabora a “Lista Vermelha de Espécies
Ameaçadas”, que já contém 65.518 diferentes nomes de bichos e plantas
que podem desaparecer nos próximos anos.
Segundo Ronaldo Gonçalves Morato, coordenador do Cenap, o último
levantamento foi feito em 2003. Após uma década, o risco de extinção da
onça-pintada em nível nacional se manteve “vulnerável” – classificação
dada pela IUCN que indica uma probabilidade de o animal ou vegetal ser
extinto, a menos que suas condições de ameaça melhorem.
Com uma população total estimada de 55 mil espécimes, os cientistas
creem que nos últimos 27 anos houve um declínio de 30% na população
efetiva, ou seja, uma queda no número de onças-pintadas capazes de se
reproduzir e deixar descendentes férteis.
Habitat fragmentado
Na Amazônia, onde esta espécie está amplamente distribuída, ocorrendo
em 89% da região, o tamanho populacional efetivo caiu 10% nos últimos 27
anos, em razão da fragmentação do habitat e desmatamento. Para Morato,
esse percentual é alto e a degradação da floresta é o principal
responsável.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), por
meio do sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na
Amazônia Legal) o bioma perdeu entre agosto de 2011 e julho de 2012 uma
área de 4.571 km².
Apesar de ser o menor índice de devastação registrado desde que as
medições iniciaram, em 1988, é uma área equivalente a três vezes o
tamanho do município de São Paulo.
A Amazônia Legal é a área que engloba os estados que possuem vegetação
amazônica - todos os da Região Norte, além de Mato Grosso e parte do
Maranhão.
Criticamente em perigo
Na Mata Atlântica e na Caatinga, as onças-pintadas estão criticamente em perigo.
Na Mata Atlântica, nos últimos 15 anos houve perda de 80% da população
efetiva. Entre as causas para esta redução está o desenvolvimento dos
centros urbanos, que fragmenta áreas verdes necessárias para a
sobrevivência das onças e eleva o risco de desaparecimento na região
costeira do Brasil. Além disso, há ainda o desmatamento ilegal.
Se conseguirmos que as pessoas parem de matar as onças, será um avanço"
Ronaldo Gonçalves Morato, pesquisador,
Sem a presença de corredores ecológicos (grandes faixas de preservação
que permitem o deslocamento de espécies sem contato com humanos), as
onças ficam isoladas e “não ocorre a transferência de informação
genética entre populações”, afirma Morato, o que significaria uma
interrupção no ciclo de reprodução desses animais.
Na Caatinga, outro bioma crítico para as onças, a eliminação de
indivíduos por caça e retaliação por predação de animais domésticos e
gado é uma “grande ameaça”, conforme o estudo, e causa uma redução
drástica de animais na região. A pesquisa sugere a existência de 250
onças-pintadas com capacidade de reprodução nesta região.
No Cerrado, onde a situação da onça-pintada está na categoria “em
perigo”, há estimativa de que existam 250 espécimes que conseguem se
reproduzir e gerar descendentes. De acordo com o estudo, as onças
existentes estão espalhadas pelo bioma e já está comprovado um declínio
populacional em consequência de atividades humanas. No Pantanal, a
classificação está no patamar "vulnerável" e a população de onças é
estimada em mil indivíduos.
Soluções
Segundo Morato, a previsão "pessimista e crítica" reforça a necessidade
de criação de um plano que ajude a retirar esta espécie da lista de
ameaças. De acordo com ele, o primeiro passo será a implementação do
Plano de Ação Nacional para Conservação da onça-pintada, criado em 2009,
e que visa a proteção desses animais em todo o país.
Além disso, Morato reforça que será necessário o funcionamento de
frentes de trabalho que se aproximem das comunidades que vivem em áreas
onde as onças estão, “buscando educar as pessoas em relação à
biodiversidade e agregando valor em benefício do animal”.
Os trabalhos começariam pelos biomas mais críticos, - a Mata Atlântica
e a Caatinga. “Queremos estabelecer a meta de aumentar em 20% a
população de onças-pintadas na Mata Atlântica nos próximos cinco anos.
Se conseguirmos que as pessoas parem de matar as onças, será um avanço”,
explica.